A referência mais óbvia que vem à mente ao se assistir à
produção mexicana “Compra-me um revólver” (2018) é “Mad Max – Além da cúpula do
trovão” (1985). Afinal, o filme dirigido por Julio Hernández Cordón é uma
ficção-científica futurista distópica tendo entre seus principais personagens crianças
órfãs abandonadas sobrevivendo em um ambiente hostil. Ao invés de adotar o tom
espetaculoso/apoteótico do clássico oitentista de George Miller, esse longa-metragem
mais recente se utiliza de uma concepção narrativa-estética mais contida e de
uma encenação sóbria, em que efeitos especiais praticamente inexistem e a
economia de recursos é determinante em termos de direção de arte e fotografia.
E tudo isso que poderia ser visto como um limitador criativo na verdade se
converte em uma grande força artística no filme de Cordón, pois aproxima um
possível futuro tenebroso de um presente não muito diferente, causando para o
espectador um efeito sensorial/existencial perturbador (caos social, exploração
humana, violência desmedida, machismo e abandono infantil não estão distantes
da realidade do México e de vários outros países da América Latina). O limite
entre a sufocante tensão dramática de um thriller de suspense e a reflexão
melancólica do subtexto de forte teor sócio-político é sempre difuso, fazendo
com que a ligação entre esses dois lados da obra seja intrínseca de maneira
contundente. Ainda que a dureza temática e formal predomine na narrativa, “Compra-me
um revólver” sabe se permitir nos momentos certos uma certa dose de poesia,
conforme se pode perceber em sua evocativa sequência de conclusão.
Um comentário:
"Compra-me Um Revólver" pode ser uma ficção, mas assusta pela sua realidade nua e crua e da qual pode estar muito mais próxima de nós do que a gente imagina. Leia a minha analise completa no meu blog https://cinemacemanosluz.blogspot.com/2019/06/cine-dica-em-cartaz-compra-me-um.html
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