terça-feira, junho 04, 2019

Vingadores: Ultimato, de Joe e Anthony Russo ***


Em tempos conturbados e complexos como o que vivemos, um filme-evento como “Vingadores: Ultimato” (2019) acaba não se tratando de apenas mais um blockbuster milionário. Por mais que a obra dos diretores Joe e Anthony Russo tenha mobilizado e emocionado milhões de espectadores, não há como dissociar suas conquistas das táticas de marketing agressivo/predatório de produtores e distribuidores. É só pensar, por exemplo, que o fato de ter abocanhado quase 90% das salas em território brasileiro contribuiu bastante para sua performance arrecadatória. É claro que quando a Marvel ascendeu como editora relevante de quadrinhos nos anos 1960 tinha como fim o sucesso comercial. É fato também, entretanto, que as HQs de Stan Lee e companhia tinham um caráter de reflexão cultural do mundo naquela época, o que ficou ainda mais evidente nas sutis tendências no subtexto de caráter libertário e crítica social de algumas de suas principais revistas na década de 70 (presente, inclusive, nas tramas cósmicas envolvendo Thanos). Assim, é algo decepcionante que o tom conformista e previsível de “Vingadores: Ultimato” seja predominante. A gente pode perceber a coerência temática que se construiu ao longo de anos em que filmes interagiram dentro desse universo com naturalidade, além de um competente padrão estético-narrativo na concepção visual e na coreografia da ação – “Ultimato”, aliás, coroa com eficácia tais atributos. A produção, contudo, pouco transcende dessa formatação, culpa de um roteiro fortemente esquemático. Há a pretensão de se apresentar épico, grandioso, mas a duração excessiva e as quedas seguidas para golpes melodramáticos tornam o filme por vezes bem anticlimático. Todas essas considerações não querem dizer que temos uma produção ruim. Pelo contrário – “Vingadores: Ultimato” diverte, até emociona em algumas passagens, além de não dar aquela impressão “nas coxas” dos filmes da DC. O que frustra mesmo é a sua incapacidade (ou mesmo falta de vontade) de sair dos ditames corporativos dos seus donos.

Um comentário:

Super Atmosfera disse...

Nossa, ótima reflexão sobre o filme. Além disso, você escreve muito bem, gostaria de trocar uma ideia com você. Também tenho um blog sobre filmes o Super Atmosfera e gostaria de conversar sobre.