sexta-feira, março 08, 2013

A hora mais escura, de Kathyn Bigelow ****



Assim como no filme anterior da diretora Kathyn Bigelow, “Guerra ao terror” (2008), não dá para dizer exatamente que “A hora mais escura” (2012) seja uma obra ufanista ou não perante os conflitos dos Estados Unidos com o Oriente Médio. O filme até tem um estudo histórico preciso e rigoroso ao mostrar a trajetória das atividades de inteligência e militar dos EUA do início da década passada até hoje visando a caçada a Osama Bin Laden. A ênfase temática de Bigelow, entretanto, desloca-se com sutileza para um aspecto mais intimista – é como se a cineasta estivesse mais interessada nos efeitos que a caçada obsessiva ao terrorista provocou nos envolvidos, principalmente na protagonista, a agente Maya (Jessica Chastain). Quando as polêmicas sequências de tortura surgem, de encenação seca e brutal, o roteiro sugere a contradição em que a busca da defesa dos valores democráticos acaba utilizando meios que levam à desumanização de seus praticantes. Por esse ângulo, como falar que o filme pode justificar a tortura?

A riqueza artística de “A hora mais escura” não se restringe a sua sobriedade temática. Bigelow volta a demonstrar a sua excelente mão para o cinema de ação. Ainda que boa parte da trama se desenvolva em gabinetes e escritórios, com longas cenas de diálogos, a dinâmica da narrativa é eletrizante, tanto na tensão quanto na violência gráfica. O rigor objetivo da encenação revela influências de um estilo documental de filmar, mas a diretora tem a sabedoria de conciliar com nuances dramáticas e emocionais impactantes, o que não significa uma concessão ao sentimentalismo. Pelo contrário. As escolhas estéticas de Bigelow vão se revelando cada vez mais coerentes, sendo que a brilhante meia-hora final do filme, com a operação de invasão ao esconderijo de Bin Laden e sua execução, é uma aula de concisão cinematográfica.

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