terça-feira, agosto 27, 2013

Hannah Arendt, de Margarethe Von Trotta ****


Num primeiro momento, a estrutura narrativa proposta pela diretora alemã Margarethe Von Trotta em “Hannah Arendt” (2012) pode aparentar um convencionalismo na sua linearidade com eventuais flashbacks. Com o desenvolver do filme, entretanto, revela-se um trabalho muito mais complexo e fascinante. Trotta concebe a sua obra como uma extensão artística e existencial do próprio pensamento filosófico da sua protagonista. Assim, por mais que a produção evoque questões de forte teor sentimental, a abordagem da cineasta traz um distanciamento emocional desconcertante. Tanto para Arendt como para Trotta, o falacioso entendimento de que o sentimentalismo seria uma espécie de sinônimo de humanismo é equivocado, sendo que o afastamento do pensamento mais racional representa um caminho de aproximação ao totalitarismo. A identificação intelectual e de ideais entre a diretora e a filósofa não faz com que a cinebiografia tenha um conteúdo meramente laudatório, pois Trotta não se furta de apresentar as contradições e dilemas que marcavam a vida e obra de Arendt, o que torna ainda mais inquietante o seu pensamento de forte cunho libertário em relação a ideários nacionalistas e comportamentais. A aludida identificação se traduz numa precisão cirúrgica na condução da narrativa, e que por vezes traz de forma sutil uma ironia cruel, principalmente nos momentos finais da produção, quando se acredita que Arendt se encaminha para uma possível “redenção” perante seus pares para que na conclusão só se confirme o seu status de pensadora fora do status quo dos padrões aceitáveis de normalidade e moralidade. E são nesses detalhes que Trotta qualifica seu filme em níveis transgressores semelhantes àqueles estabelecidos nos escritos de Arendt.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Foi uma pessoa com a mente muito a frente do seu tempo, mesmo tendo passado os horrores no holocausto.