quarta-feira, outubro 01, 2014

O batismo, de Marcin Wrona ***1/2


O diretor polonês Marcin Wrona consegue um feito notável em “O batismo” (2010). A partir de uma estrutura narrativa simples no gênero policial, ele constrói um pequeno conto trágico e brutal cuja atmosfera sombria alude a inevitabilidade do destino. A trama não apresenta concessões dramáticas ao retratar o calvário de um delator que se vê chantageado e sentenciado de morte pelos seus antigos companheiros. Wrona estabelece ambientações contrastante e perturbadoras – quando o protagonista Michal (Wojciech Zielinski) está em casa com a família, há uma impressão de beatitude e pureza, mas quanto mais ele vai se enredando no seu pesadelo pessoal e também surgem à tona seus algozes essa sensação de algo imaculado vai se pervertendo num cenário de violência e sangue. O amigo Janek (Tomasz Schuchardt) talvez seja o personagem que melhor sintetize o espírito do filme – angustiado por ajudar, cada vez mais se sente impotente diante da inexorabilidade dos fatos que se desenrolam na tela. As seqüências finais do filme se relacionam ao batismo do título e fazem lembrar as cenas finais marcantes de “O poderoso chefão” (1972). E assim como na clássica obra de Francis Ford Coppola, mostra que o ato religioso em questão se configura como um ritual vazio e hipócrita diante da realidade da crueldade humana.

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