Assim como David Cronenberg, quando esse enveredava para o gênero
horror, o diretor norte-americano Frank Henenlotter em seus filmes de terror
sempre buscou uma temática ligada ao corpo humano e suas pulsões de desejo e
morte, ao invés de se ligar na temática tradicional nesse tipo de produções.
Assim, a tônica dominante de sua filmografia foi a escatologia e estranhas
aberrações. Ao contrário de Cronenberg, entretanto, a atmosfera do melhor da
obra de Henenlotter é marcada por um humor um tanto escrachado e por doses de
violências mais explícitas, combinação essa típica da época de ouro do horror
oitentista. “O soro do mal” (1988) marca o auge de tais concepções artísticas
particulares de Henenlotter. Tudo aquilo que já havia sido burilado no clássico
“Basket Case” (1982) aflora com uma intensidade perturbadora – as condições
modestas de recurso acabam se tornando um trunfo diante da criatividade do
cineasta na utilização de seus recursos, fazendo com que o filme tenha um
estranho e constante clima de decadência e sordidez. O impacto dos efeitos
especiais quase artesanais, distantes do realismo estéril do digital, acentuam
ainda a desconcertante sensação ambígua entre o riso e a tensão dramática que permeia
a trama. Nessa levada, o roteiro se desenvolve como um pesadelo urbano, com a
ação evoluindo em prédios decrépitos e bares bagaceiros e ressaltando o aspecto
mitológico singular de Nova Iorque, em que a mesma cidade que atrai pelas suas
luzes e glamour também seduz pela ambiência de decadência e hedonismo,
mostrando-se o cenário perfeito para o conto moral sangrento engedrado por
Henenlotter, que combina com equilíbrio contundente na mesma narrativa desejo,
morte, senso de humor doentio e melancolia. Nesse sentido, “O soro do mal”
talvez seja a melhor tradução audiovisual da música selvagem e perversa de
nomes fundamentais do cenário roqueiro nova-iorquino como Suicide, James Chance
e Dead Boys.
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