quinta-feira, janeiro 03, 2019

Lost Zweig, de Sylvio Back ***


O fluxo criativo do articulista deste blog obedece a um direcionamento simples. À medida que vou vendo filmes no cinema, DVD e afins, escrevo sobre eles na ordem em que os assisti. Dessa forma, acaba me parecendo uma certa ironia do destino que esteja escrevendo sobre “Lost Zweig” (2003) justamente nesse três de janeiro de 2019. A produção dirigida por Sylvio Back trata da última semana da vida do escritor austríaco Stefan Zweig, que cometeu suicídio junto à esposa no Brasil em 1942. A morte do artista sempre carregou uma aura de mistério, inerente a essa tipo de evento, ainda que ele tenha deixado um bilhete de despedida bem esclarecedor em relação aos seus motivos. O que se pode apreender como efetiva causa de sua decisão estava em um mal-estar existencial diante de um mundo que se encaminhava naquele momento com muita naturalidade para o nazi-fascismo. E como um brasileiro com um mínimo de sensibilidade e racionalidade pode se sentir na atualidade diante de um ordenamento sócio-político baseado em uma conjunção nefasta de patriarcalismo, racismo, misoginia, homofobia, xenofobia e exclusão social que foi escolhido pela própria população? Quantos Zweigs devemos ter por aí?

A versão cinematográfica concebida por Back para a tragédia de seu protagonista é marcada por uma fascinante ambiguidade estética e emocional, o que por vezes torna a narrativa um tanto fria e irregular. A impressão inicial é de uma abordagem de teor realista/naturalista, tanto na caracterização de personagens e situações como na atmosfera do filme. Aos poucos, entretanto, a obra vai ganhando uma conotação mais complexa e difusa, em que elementos que beiram o delirante realçam a narrativa. Diante dos posicionamentos escorregadios do governo Vargas diante à Alemanha nazista e da situação desesperadora de seus conterrâneos judeus na Europa, Zweig (Rüdige Vogler) vai se deixando inebriar pela sensualidade latente explosiva e pelo comportamento humano contraditório típicos do ambiente exótico que o cerca. Nesse perturbador contexto histórico em que ele está inserido, sua decisão final pode parecer brusca e radical, mas também ganha uma conotação existencial de dolorosa coerência.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Não sabia desse filme. Me bateu a curiosidade