Há uma densa relação de prolixidade dos diálogos e intensa
carnalidade em “Uma relação delicada” (2013), combinação essa característica de
boa parte do cinema francês. Para a diretora Catherine Breillat, o estranho
relacionamento entre a renomada cineasta Maud (Isabelle Huppert) e o picareta
Vilko (Kool Shen) é um agudo pretexto temático para esmiuçar de maneira sutil e
sardônica os conflitos de classe e o vazio existencial do mundo pequeno-burguês
ocidental. Na narrativa árida do filme, o sentimentalismo passa longe, e o que
predomina é uma incômoda sensação de interesses e desejos que estão sempre
escusos ou mal explicados. O que era para ser uma espécie de pesquisa de campo
ou mesmo uma jornada de autodescoberta para Maud acaba se transformando em uma
espécie de pesadelo, quase como um mergulho no coração das trevas de um
ordenamento social que ela achava conhecer. Boa parte da força dramática do
filme se concentra na delicada composição cênica de Huppert, que varia sua
interpretação com notável versatilidade entre um ar blase e a pura perplexidade
patética.
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