segunda-feira, julho 08, 2019

Uma relação delicada, de Catherine Breillat ***


Há uma densa relação de prolixidade dos diálogos e intensa carnalidade em “Uma relação delicada” (2013), combinação essa característica de boa parte do cinema francês. Para a diretora Catherine Breillat, o estranho relacionamento entre a renomada cineasta Maud (Isabelle Huppert) e o picareta Vilko (Kool Shen) é um agudo pretexto temático para esmiuçar de maneira sutil e sardônica os conflitos de classe e o vazio existencial do mundo pequeno-burguês ocidental. Na narrativa árida do filme, o sentimentalismo passa longe, e o que predomina é uma incômoda sensação de interesses e desejos que estão sempre escusos ou mal explicados. O que era para ser uma espécie de pesquisa de campo ou mesmo uma jornada de autodescoberta para Maud acaba se transformando em uma espécie de pesadelo, quase como um mergulho no coração das trevas de um ordenamento social que ela achava conhecer. Boa parte da força dramática do filme se concentra na delicada composição cênica de Huppert, que varia sua interpretação com notável versatilidade entre um ar blase e a pura perplexidade patética.

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