Por vezes, a produção francesa “Vidas duplas” (2018) passa a
impressão que o seu diretor Olivier Assayas estava mais interessado no filme
como um veículo para impressões culturais-políticas-existenciais sobre o mundo
contemporâneo do que propriamente entregar uma obra perfeitamente acabada em
termos narrativos. Não que o filme padeça de alguma indigência formal – na realidade,
é até um trabalho bem envolvente para espectador em alguns momentos. Pesa no
filme, entretanto, uma prolixidade nos diálogos, que aparentam uma necessidade
urgente em abarcar vários dilemas da pós-modernidade que nos afligem. Nessa
ânsia, dá para dizer que há um exagero em discussões tecnológicas e econômicas
que fazem com que o longa tenha um certo ar datado, distante, dessa forma, da
beleza atemporal de obras como “Depois de maio” (2012) e “Personal shopper” (2016),
primorosos trabalhos anteriores de Assayas. Ainda assim, a sobriedade da
encenação e o desempenho dramático preciso do elenco fazem com que o filme
adquira em algumas sequências uma frequência sensorial algo hipnotizante, em
que a profundidade dos diálogos e situações do roteiro e uma interessante
atmosfera mista de ironia e melancolia levam o espectador para uma serena zona
entre o encanto e a reflexão.
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