terça-feira, novembro 23, 2010

Capitalismo: Uma História de Amor, de Michael Moore ***


Em um primeiro momento, a intenção de Michael Moore em “Capitalismo: Uma História do Amor” (2009) é expor as razões que levaram à crise econômica norte-americana que estourou em 2008 e se estendeu pelo resto do mundo. Ao longo do documentário, entretanto, tais motivos vão ficando cada vez mais nebulosos, inclusive para o próprio diretor! Moore parece refletir o espanto do espectador ao se ver perdido em conceitos complexos e tecnicismos do mercado de ações e demais especulações. Isso não quer dizer que ele não permite deixar evidente seu ponto de vista sobre o assunto, adotando uma postura crítica ostensiva sobre as políticas econômicas e sociais adotadas pelos governos norte-americanos, tanto republicanos quanto democratas, nos últimos 30 anos, formando um amplo painel sobre a trajetória dos Estados Unidos no mencionado período. É claro que a visão do diretor traz uma certa carga ideológica, além de tentar encontrar explicações em razões um tanto simplistas e superficiais. É inegável o talento de Moore, todavia, em emoldurar suas concepções pessoais em um formato acessível e bem humorado. As sequências que mostram famílias sendo despejadas pelos bancos em virtude de hipotecas não pagas, por exemplo, são contundentes ao tornar factíveis as conseqüências da farra especulativa dos banqueiros e agentes governamentais irresponsáveis. O cineasta combina depoimentos e trechos diversos de filmes de ficção e documentais aliado a sua habitual interação com os personagens e situações do seu filme, obtendo como resultado final uma obra que beira a tragicomédia tamanha a ironia ácida e amarga que transpira. Mesmo que seus pretensos fins didáticos acabem não sendo correspondidos na sua totalidade, Moore consegue em “Capitalismo: Uma História de Amor” oferecer um registro emblemático e acessível de uma era e suas complexidades.

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