segunda-feira, novembro 08, 2010

O Refúgio, de François Ozon ***


O cineasta francês François Ozon já enveredou por vários gêneros cinematográficos dentro de sua filmografia. Mesmo com essa variedade, contudo, suas produções mantiveram uma certa unidade em termos temáticos e estéticos, prevalecendo uma abordagem em que prevalece uma ácida ironia e o distanciamento emocional. “O Refúgio” (2009) não foge do padrão de Ozon, gerando para o espectador uma sensação de desconcerto. Dentro de um formato de melodrama, jogando na mesma trama elementos como vício em drogas, homossexualismo, morte e desagregação familiar, o diretor arquiteta uma narrativa contemplativa e que explora com constância as dúvidas existenciais de seus protagonistas. Há no filme, principalmente pela fotografia limpa e luminosa, uma estranha atmosfera de quase beatitude. Diante de um conjunto como esse, pode-se pensar em relacionar o que se está vendo na tela com uma obra que tem como mote principal de seu roteiro um doloroso processo de amadurecimento e redenção para a personagem Mousse (Isabelle Carré), ex-viciada em heroína grávida de namorado junkie já falecido. A solução encontrada por Ozon, porém, não é marcada pela facilidade, ressaltando quem nem sempre um processo de sofrimento levar um indivíduo a se tornar uma pessoa melhor. Tal conclusão traz em seu bojo o elemento sardônico tão caro para o cinema de Ozon.

Nenhum comentário: