sexta-feira, novembro 05, 2010

Comer Rezar Amar, de Ryan Murphy *


Dizer que “Comer Rezar Amar” (2010) é uma obra problemática por se enquadrar no gênero “filme de mulherzinha” seria inexato. Até porque não dá para caracterizar a produção dentro desse estereótipo. Muito do que é mostrado na trama do filme em termos de conflitos, mesmo que abordado com a profundidade de um manual de auto-ajuda, tem um caráter universal, não se aplicando apenas a mulheres balzaquianas de classe média. Nesse sentido, há até momentos que chegam a ser perturbadores pela forma que relacionamentos humanos são expostos. O que faz “Comer Rezar Amar” afundar mesmo é sua concepção formal equivocada. O diretor Ryan Murphy parece demonstrar muito mais uma sensibilidade de publicitário no filmar do que propriamente alguma visão artística. As seqüências filmadas na Itália, por exemplo, parecem um grande comercial de supermercado tamanho o tom asséptico dos closes em pratos culinários e nas tomadas mostrando pessoas se fartando com vinhos, salgados, doces e afins. Pretende-se visualizar um certo hedonismo em tais cenas, mas as mesmas carecem de vigor e convicção nos seus pretensos extravasamentos sensoriais. No mais, predomina uma direção de fotografia de viés “cartão-postal” que mais parece disposta a animar o espectador a fazer viagens a um país exótico do que propriamente explorar as possibilidades criativas das paisagens da Índia e Bali. Há um instante em “Comer Rezar Amar”, contudo, que parece nos dar um vislumbre do que o filme poderia ter sido: a protagonista Liz (Julia Roberts), assistindo a um casamento hindu, relembra a sua própria festa matrimonial e acaba tendo uma dança imaginária com o ex-marido ao som da bucólica canção “Harvest Moon” de Neil Young, expressiva sequência essa de caráter onírico e de serena melancolia.

2 comentários:

pseudo-autor disse...

Comer, Rezar e Amar teve o mesmo problema de À Procura da Felicidade, com Will Smith. Enquanto no filme de Will eu simplesmente não consigo chamar a conquista dele de felicidade, nesse aqui eu acho muito cômodo a personagem abandonar tudo ganhando o megasalário que ganhava. Quero ver sobrevivendo com salário mínimo se ela fazia isso!

Cultura na web:
http://culturaexmachina.blogspot.com

André Kleinert disse...

Minhas ressalvas para "Comer Rezar Amar" não está tanto no seu conteúdo discutível. Afinal, a história do cinema é recheada de casos em que obras de temática questionável se tornaram filmes clássicos. O probelma de "Comer Rezar Amar" está na sua estética destituída de vigor e criatividade.
Confesso que gosto muito de "À Procura da Felicidade". Alguma sequências do filmes são admiráveis em termos de tensão dramática.