quarta-feira, março 14, 2012

Cada um tem a gêmea que merece, de Dennis Dugan **1/2



É provável que a profusão de grosserias e escatologias em “Cada um tem a gêmea que merece” faça com que o filme ganhe o desdém de boa parte da crítica e até de uma parcela do público (o número elevado de indicações no famigerado “Framboesas de Ouro” é um bom indicativo de tal tendência...). Afinal, não é de bom tom apreciar uma comédia cuja piada mais recorrente tenha a ver com flatulências e diarréias. Mas é esse mesmo tom de excessos da produção mais recente da parceria entre o diretor Dennis Dugan e o ator Adam Sandler que possibilita os seus mais possíveis e expressivos elementos de alguma transcendência. Há uma certa leitura simbólica que se possa fazer no conflito entre os gêmeos Jack e Jill. O primeiro, judeu que cresceu no Bronx e que se tornou profissional bem sucedido em Los Angeles, representa aquele tipo de personagem que com o passar do tempo perdeu algo de sua essência. Já Jill permaneceu no bairro novaiorquino e seu temperamento explosivo e desagradável representa algo de transgressão para o processo de assepsia de Jack. É claro que a simbologia tem o seu lado simplório, mas acaba fazendo sentido diante de algumas sequências que exageram no escracho e no pastelão. As cenas na festa dos mexicanos, por exemplo, rendem momentos efetivamente engraçados, principalmente quando entra em cena uma estranha senhora desdentada e viciada em pimenta crua. Também é interessante que a esdrúxula participação de Al Pacino (interpretando a si mesmo!) entra em sintonia com o subtexto do filme de resgate de raízes e afins.

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