sexta-feira, março 16, 2012

W.E. - O Romance do Século, de Madonna ***



Resgatando o próprio histórico musical de Madonna, não chega a ser tão estranho assim o fato dela se aventurar no cinema como diretora. Ícone cultural dos anos 80, década em que o visual de um artista se tornou definitivamente fundamental para o seu sucesso, ela sempre se notabilizou pelos clips de sua música. Tais vídeos com o tempo se converteram em uma espécie de inventário da moda e do comportamento de toda uma geração. Mesmo suas apresentações ao vivo adquiriram os contornos de legítimos herdeiros de shows da Broadway. Em “W.E. – O Romance do Século” (2011), toda essa herança artística da cantora parece influenciar nas suas concepções formais como diretora. Madonna revela uma tendência forte para a estilização da imagem e mesmo do conteúdo do roteiro. A forma com que a história real do romance entre o príncipe britânico Edward VIII com a plebéia Wallis Simpson é exposta tem muito mais a ver com a forma que o fato se cristalizou no imaginário mundial do que com uma revelação da “verdade”. O filme passa uma fascinação com os elementos físicos e sensoriais que envolviam o caso de amor em questão: a elegância dos figurinos, a atmosfera hedonista, o refinado gosto na decoração dos castelos, as conversas espirituosas. Mesmo os momentos de tensão dramática, com destaque para aqueles que dizem respeito à renúncia da coroa por parte de Edward, mantém uma aura de certo distanciamento emocional justamente para não comprometer a ambientação “chique” da produção. De certa forma, tal abordagem de “W.E.” lembra um pouco a orientação de Martin Scorsese em “O Aviador” (2004). A obra de Madonna, contudo, peca por alguns recursos manjados do roteiro e pela narrativa se mostrar um tanto arrastada e truncada na alternação que se estabelece entre presente e passado. Mesmo assim, “W.E.” mostra Madonna como uma diretora em busca de um estilo, ainda que não original, mas pelo menos visível.

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