segunda-feira, fevereiro 17, 2014

Cassandra Rios: A safo de Perdizes, de Hanna Korich *


Em sessão de debate com a platéia que sucedeu à exibição de “Cassandra Rios: A safo de Perdizes” (2013), Hanna Korich, realizadora do filme em questão, deixou claro que não se considera uma documentarista profissional e que a intenção principal de sua produção era resgatar a memória de sua protagonista, escritora lésbica bastante popular entre os anos 50 e 80 de romances de forte teor erótico e que foi bastante censurada, principalmente na época da ditadura militar. Vendo o documentário, é bem evidente essa falta de traquejo da diretora. Nas cenas de depoimentos, Korich praticamente se limita a focalizar seus entrevistados em longos comentários biográficos e/ou dissertativos sobre Rios – falta uma caracterização de ambientação e também um trabalho mais zeloso de edição. Do jeito que ficou, a impressão é a de longas seqüências de prolixas, e por vezes tediosas, “cabecinhas falantes”. Incomoda também a falta de um material audiovisual de arquivo mais amplo, tendo em vista que nesse sentido o filme se limita a trechos de uma entrevista de Rios com Jô Soares. Além disso, a narrativa tem um forte tom panfletário, o que atrapalha a fluência do seu ritmo. Diante de todos esses equívocos, portanto, pode-se dizer que se trata de uma obra dispensável? Pois é, pode parecer meio contraditório, mas mesmo com os seus defeitos é um filme que merece ser visto pela riqueza de sua temática. Cassandra Rios é uma figura fascinante e sua trajetória traz uma série de questionamentos e contradições que são inerentes à história cultural, social e comportamental do Brasil. Talvez o documentário de Korich possa servir como ponta de lança para futuras abordagens cinematográficas mais aprofundadas e melhor acabadas formalmente sobre a escritora.

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