terça-feira, fevereiro 18, 2014

Trapaça, de David. O. Russell ***


Assim como já havia feito em obras anteriores como “O vencedor” (2010) e “O lado bom da vida” (2012), o diretor David O. Russell procurou imprimir em “Trapaça” (2013) uma narrativa mais solta, que enveredasse por uma abordagem mais naturalista. Só que tal concepção entra em contradição com um certo tom operístico no seu formalismo – não à toa, o filme foi comparado em mais de uma oportunidade com alguns filmes de Martin Scorsese. Esse choque de estilos gera uma produção irregular. Os pontos altos da obra estão em momentos cuja encenação fluida de Russell melhor aflora, principalmente quando a tônica da dramaticidade está nas mãos de um inspirado elenco de atores. Russell se notabiliza por ser um ótimo diretor de atores e aqui extrai interpretações antológicas de Christian Bale, Bradley Cooper, Amy Adams e Jennifer Lawrence, além da ponta mais do que expressiva de Robert De Niro como um gangster (dá até vontade de vê-lo protagonizando mais um filme de Máfia). O problema, entretanto, é quando a “Trapaça” se foca numa trama um tanto genérica, que mais valoriza surrados recursos do tipo “truque dentro do truque” do que na caracterização de tipos e situações (ao contrário, por exemplo, do registro seco beirando o documental e do visceral humanismo de “O vencedor”). Assim, mesmo o tom barroco da fotografia de belos planos seqüências e enquadramentos grandiosos acaba soando mais como uma forçação de barra do que uma real inspiração artística. É claro que no cômputo geral “Trapaça” é um filme com um certo grau de magnetismo, mas a frustração está no fato de que se sabe que Russell, pelo potencial artístico apresentado em outras obras, poderia ter se saído muito melhor.

Um comentário:

Anônimo disse...

Apenas uma imitação sem graça dos filmes de Scorsese. A Academia de Hollywood teve o bom senso de não dar nenhum prêmio a essa mediocridade, apesar das muitas e imerecidas indicações.