quinta-feira, fevereiro 27, 2014

Inside Llewin Davis - Balada de um homem comum, de Ethan e Joel Coen ***


Depois de uma sucessão de filme marcados pelo barroquismo cênico, os irmãos Coen se voltam para um estilo mais discreto em “Inside Llewin Davis – Balada de um homem comum” (2013). Essa obra mais recente tem uma certa sintonia temática com “E aí, meu irmão, cadê você?” (2000) pela questão musical, afinal este trazia tanto na trilha sonora quanto em elementos do roteiro menções sobre os primórdios do cancioneiro americano, principalmente o blues e o country, enquanto aquele tem como pano de fundo a cena folk de Nova Iorque no início dos anos 60, cenário esse onde surgiu Bob Dylan. Mesmo com essa relação, entretanto, as formatações das produções são diferentes, pois enquanto “E aí, meu irmão, cadê você?” se configurava como uma comédia aventuresca repleta de simbologias relacionando mitologia clássica grega com elementos da história dos Estados Unidos, em “Inside Llewin Davis” a abordagem é a de um sóbrio drama com toques irônicos. Na trama, não há grandes acontecimentos ou superações pessoais nos eventos que envolvem o protagonista do título (Oscar Isaac) – a sina de fracassos e decepções do personagem é focada com distanciamento emocional, por vezes até de forma cômica. Nesse sentido, há um contundente contraste no registro seco e desapaixonado do cotidiano de um cara normal com o próprio ambiente de intensa efervescência cultural em que ele está inserido. Colaborando com tal orientação artística, o trabalho de direção de arte e fotografia do filme se mostra fundamental e é bastante interessante na sua concepção, fazendo uma combinação entre o realismo e um certo senso de estilização, como se aqueles cenários saíssem também do imaginário coletivo relativo a um dos períodos mais comentados da história da cultura ocidental. É provável que todo esse rigor estético possa frustrar um pouco àqueles que se acostumaram com as explosões criativas de outros trabalhos dos Coen, mas mesmo um trabalho menor deles ainda é capaz de ser intrigante e acima da média como esse “Inside Llewin Davis”.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Amei a trilha sonora desse filme