sexta-feira, fevereiro 21, 2014

Gloria, de Sebastian Lelio ***


O estilo narrativo estabelecido pelo cineasta Sebastian Lelio em “Gloria” (2013) é seco e rigoroso – ainda que a trajetória sentimental da personagem título seja tortuosa, o filme não envereda por grandes arroubos dramáticos e nem por ostensivos truques formais. O registro de Lelio mantém de forma constante a sobriedade e o naturalismo, beirando até o documental. Tal aridez acaba se revelando coerente e adequada para a história que é contada. O interesse da trama é por se focar em pequenos atos cotidianos, em que até as mesquinharias e mediocridades de algumas criaturas ganham uma dimensão relevante. Nesse sentido, o roteiro tem sacadas interessantes em termos de sugestão – fatos do passado dos personagens são mencionados de forma ocasional, como se em pequenos esboços tais figuras humanas fossem sendo construídas sutilmente. A seqüência do jantar de aniversário do filho de Gloria (Paulina García), por exemplo, é exemplar na utilização de tal expediente, em que gestos, fragmentos de conversas e olhares evocam mágoas e relações mal resolvidas. São justamente essas sensações de mal estar ou incômodo existencial que dominam a narrativa de “Gloria”, fazendo com que essa crônica intimista elaborada por Lelio traga no seu subtexto uma espécie de reflexo da condição moral de uma sociedade dominada por solidão e preconceito.

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