Ver um filme como “O sonho não acabou” (1982) em pleno 2018
é uma experiência amarga. Não tanto pelos méritos artísticos do filme, mas
pelos diferentes contextos históricos que separam a época em que se desenvolve
a trama da produção dirigida por Sérgio Rezende e o do presente. Enquanto o
roteiro da obra foca jovens universitários de Brasília sobrevivendo nos anos
finais da ditadura militar no Brasil, com todos os seus desejos e frustrações
se chocando em um ambiente de opressão institucional, nos dias de hoje uma
parcela expressiva da população brasileira manifesta o seu desejo em viver sob
um governo totalitário de forte traço militarista. Deixando de lado
melancólicas (e necessárias) digressões políticas-existenciais, o longa de
Rezende não deixa de revelar algumas inquietações artísticas e temáticas
típicas daquela época, ressaltando uma tendência na busca de uma linguagem mais
moderna (pelo menos para os padrões do início da década de 1980), mas
esbarrando em uma inexperiência narrativa por parte do cineasta. A tosquice e
ingenuidade da encenação deixam tudo um tanto datado, ainda que essa certa
precariedade involuntária faça que por vezes o filme fique até bem divertido e
simpático. Em seus trabalhos posteriores, Rezende se mostrou um realizador mais
maduro e convencional. O que ganhou em profissionalismo, perdeu em
espontaneidade, característica que paira sobre boa parte da duração de “O sonho
não acabou”.
Um comentário:
Deve ser um contraste mesmo assistir. https://cinemacemanosluz.blogspot.com/2018/12/cine-dica-em-cartaz-tinta-bruta.html
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