segunda-feira, junho 01, 2015

Crimes ocultos, de Daniel Espinosa **1/2


Durante muitas décadas, foi prática recorrente e até aceitável em várias produções norte-americanas o fato de que em tramas que se desenvolvem em outros países os personagens falassem inglês perfeitamente, ainda que com um sotaque picareta. Afinal, as contingências culturais e comerciais determinavam a necessidade de uma língua “universal” que fosse acessível para todos. Dito isso, confesso que depois de assistir a “Bastardos inglórios” (2009) esse tipo de recurso me pareceu datado demais. No extraordinário filme de Tarantino, cada personagem falava o seu idioma nativo (inglês, alemão, francês, italiano), de acordo com a situação específica do roteiro. Esse nível de realismo fez com a caracterização de personagens e situações ficassem ainda mais críveis e impactantes. Dessa forma, os diálogos em inglês com sotaque simulando russo da trama que se passa na União Soviética da época do stalinismo de “Crimes ocultos” (2015) acaba soando bem antiquado. Mas a impressão de algo mofado não se restringe a essa questão de linguagem. Por mais que o filme conte com um elenco de nomes expressivos e o diretor Daniel Espinosa consiga por vezes deixar a narrativa envolvente o suficiente para que não se perceba a duração excessiva de duas horas e meia da produção, a verdade é que o filme parece novelesco em demasia nas viradas melodramáticas de seu roteiro, bem como é superficial tanto na caracterização de personagens e nas resoluções de sua trama. Ainda que a pretensão seja a de uma contundente crítica ao modelo burocrático estatal comunista, falta estofo e profundidade para que a obra transcenda o previsível e competente thriller de suspense.

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