segunda-feira, junho 29, 2015

Jauja, de Lisandro Alonso ***1/2


Aqueles acostumados com os convencionalismos melodramáticos habituais do cinema argentino contemporâneo irão levar um susto com “Jauja” (2014). A produção dirigida por Lisandro Alonso trafega por caminhos mais nebulosos e surpreendentes. O que se tem em tal obra é um híbrido das narrativas metafísicas de Tarkovsky e Sokurov, do retrato impiedoso de uma natureza selvagem e inóspita típico de boa parte dos trabalhos de Herzog e a atmosfera surreal delirante de David Lynch. Apesar dessa confluência de referências, o resultado final é bastante original e inquietante. A premissa inicial de trama e mesmo a concepção estética nas primeiras cenas sugerem um viés realista, até mesmo de certa aridez emocional e formal. Com o desenrolar da narrativa, entretanto, o filme vai ganhando uma dimensão mais ampla. À medida que o protagonista Gunnar (Viggo Mortensen) se embrenha cada vez mais no interior da Patagônia em busca da filha que fugiu com o amante, a lógica do roteiro parece ir se fragmentando de forma inexorável. Talvez até poderia se dizer que a viagem “física” de Gunnar serviria como metáfora de uma espécie de jornada de autodescoberta existencial. Todavia, a verdade é que esse simbolismo se extrapola em outras direções. “Jauja” se configura em um sensorialismo exasperado e delirante, em que as próprias noções de espaço e tempo se estilhaçam - naturalismo, dimensões oníricas e viagens intertemporais convivem de forma atribulada no mesmo universo.

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