quinta-feira, junho 18, 2015

Sob o mesmo céu, de Cameron Crowe ***


Pode até parecer exagerada ou estapafúrdia a comparação, mas “Sob o mesmo céu” (2015) faz lembrar algumas produções clássicas de Frank Capra. É claro que o diretor Cameron Crowe está muito longe de ter a mesma estatura artística de Capra, mas esse seu filme mais recente parece emular algo da atmosfera e temática características de filmes como “Do mundo nada se leva” (1938) ou “A felicidade não se compra” (1946). Isso porque há aquela linha de trama em que se contextualiza inicialmente um ambiente corrupto e mesquinho e com a progressão da história a correção ética vai sendo retomada até chegar a uma conclusão onde há uma redenção moral para os seus protagonistas. Nesse final, os valores morais da sociedade capitalista ocidental são reforçados como regra. Na obra em questão de Crowe, que já havia adotado roteiros semelhantes em “Jerry Maguire” (1996) e “Tudo acontece em Elizabethtown” (2005), esse mecanismo de trama se desenvolve de uma forma um tanto confusa e até pueril. Afinal, o que motiva a crise de consciência no personagem principal Brian Gilcrest (Bradley Cooper) é uma paixão repentina e mal explicada pela correta mocinha Allison (Emma Stone). Mas se Crowe na comparação com Capra sai em descomunal desvantagem, também há de se afirmar que “Sob o mesmo céu” ainda guarda uma margem capaz de criar empatia com a plateia devido a alguns elementos formais e temáticos. Se o roteiro é pouco convincente, por outro lado a narrativa tem uma leveza cativante, capaz de apresentar algumas sequências memoráveis na sua combinação de melodrama contido e comicidade sutil. Nesse sentido, de se destacar a divertida festinha em que Allison dança com o “diabo” Carson Welch, esquisito e caricatural vilão interpretado por Bill Murray, e as cenas em que Brian contracena com o taciturno Woody (John Krasinski). Crowe mostra também a sua habitual boa mão para a direção de atores, a maioria com caracterizações carismáticas. E é claro que como em qualquer filme de Crowe não dá para não mencionar a trilha sonora, uma bela coleção de bucólicos temas incidentais e cancioneiro diversificado (rock, pop e até mesmo blues havaiano!).

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