segunda-feira, junho 22, 2015

Divertida mente, de Pete Docter **1/2


A ideia principal que paira em “Divertida mente” (2015) é criativa e interessante: a de que a central de emoções e pensamentos de um ser humano se dividiria internamente em uma espécie de organização burocrática. De certa forma, tal premissa até faz lembrar algo parecido que havia sido feito dentro do universo dos jogos eletrônicos no extraordinário “Detona Ralph” (2012). É de se considerar ainda que elementos da trama dessa produção mais recente da Pixar remetem a conceitos psicanalíticos e comportamentais de caráter complexo e até mesmo ousado. Ou seja, talvez seja uma das obras da Pixar de maior pretensão artística ao tentar combinar tais preceitos temáticos dentro de um formato típico de uma animação comercial direcionada ao público infantil. O grande problema de “Divertida mente”, entretanto, é que a junção de todas essas premissas e conceitos não resulta em uma narrativa orgânica e fluida. A estrutura do melhor que já se fez no gênero dos desenhos animados destinados ao público infanto-juvenil parte de uma equação simples e eficiente – a partir de uma narrativa que configura pela aventura e o drama tradicionais, infiltra-se com sutileza um subtexto de feições educativas e/ou questionadoras. Permite-se ao seu público um espaço para a reflexão sobre o conteúdo daquilo que se está vendo. Em “Divertida mente”, não há esse espaço para sutileza, pois o próprio roteiro é puro subtexto, em que todo os mecanismos existenciais e artísticos são jogados na cara da plateia sem a menor discrição. É quase como se o filme fosse uma obra institucional para ser usado para educadores e psicanalistas. É claro que em termos visuais há algumas boas sacadas estéticas, além da história trazer figuras e situações intrigantes (o amigo imaginário perdido, o limbo das lembranças esquecidas). Mas acaba sendo pouco diante daquilo que “Divertida mente” efetivamente poderia render.

Nenhum comentário: