Filmar toda a ação dentro de um camburão não é um truque marqueteiro
do diretor egípcio Mohamed Diab em “Clash” (2016). Na verdade, tal recurso se
mostra em sintonia com a proposta estética-temática da obra, além de não servir
como mero pretexto para uma execução descuidada ou indulgente. Muito pelo
contrário – trata-se de um filme cujo formalismo é ousado e dinâmico, e que
sabe valorizar as suas possibilidades imagéticas. O que ocorre externamente ao
ambiente fechado em que se passa a história é captado pelas frestas de janelas
e portas, mas ainda assim o espectador consegue assistir a sequências muito bem
delineadas na sua combinação de realismo e tom épico. Pode-se perceber duas
intenções básicas na proposta de concentrar a trama dentro do veículo em
questão – a de recriar de forma simbólica alguns setores sociais da sociedade
egípcia e a dinâmica disfuncional na relação que se estabelece entre eles, e
também a de acentuar uma atmosfera claustrofóbica de tensão e fatalismo. Ainda
que por vezes o roteiro se prenda em alguns excessos melodramáticos e a
narrativa fique truncada, as mencionadas intenções se concretizam de forma
contundente. O terço final, por sinal, é eletrizante na sua conjugação de
violência, suspense e visão sócio-política.
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