O diretor Ricardo Alves Junior busca uma ousada síntese de
drama social, suspense e horror em “Elon não acredita na morte” (2016). Para
isso, constrói uma narrativa em que na maioria das suas sequências predomina
encenação e ambientação de tons realistas, mas que em momentos cruciais recebe
pinceladas de elementos fantásticos. O roteiro do filme procura combinar uma
trama envolvendo uma certa linha investigativa e de tons misteriosos, no que
diz respeito à procura obsessiva do protagonista Elon (Rômulo Braga) pela
esposa desaparecida, com passagens que evidenciam flagras do cotidiano do
personagem principal envolvendo precariedade e opressão sócio-econômicas. Há
sobriedade e rigor formais na concepção audiovisual da obra, o que colabora
para que haja alguma tensão e angústia para a história. Ou seja, todo o método
artístico do cineasta fica evidente em cada fotograma da obra. Esse excesso de
controle estético-existencial, entretanto, faz com que a narrativa seja pouco envolvente
para o espectador, além de resultar num roteiro que vai se revelando cada vez
mais previsível em seus desdobres dramáticos – de certa, é como se observássemos
um texto ficcional que que se prende de maneira excessiva a regras acadêmicas
de cursos de roteiros. Falta ao filme momentos em que as coisas saiam da
casinha, alguma transcendência, que só se insinua na bela sequência de sexo
entre Elon e a esposa. É claro que há o destaque positivo das boas composições
dramáticas do elenco, mas “Elon não acredita na morte”, no geral, se mostra frustrante
pela sua mecânica bem-comportada, distante, por exemplo, do clima de insano
conto gótico cinematográfico de “Quando eu era vivo” (2014), obra que em termos
de proposta artística se aproxima do filme de Ricardo Alves Junior.
Um comentário:
Eu gostei, muito embora não seja um filme que irá agradar a todos
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