As primeiras cenas de “O filho de Joseph” (2016) trazem
imagens do cotidiano de Paris, enfatizando determinados signos de modernidade –
tal sequência, entretanto, recebe um tratamento formal marcada pela sobriedade
estética e é musicada por temas barrocos, evocando uma desconcertante sensação
de atemporalidade. Tais tomadas já deixam logo evidente que o particular traço
autoral do cineasta Eugène Green, delineado de maneira contundente em “La
sapienza” (2014), permanece de forma indelével. Aliás, até se aprofunda em suas
peculiaridades, principalmente na questão do ascetismo religioso herdado de
Bresson – aliás, o burro que se torna importante personagens nas cenas finais
da produção parece saído diretamente de “A grande testemunha” (1966),
importante clássico bressoniano. É como se um rigoroso conto moral aos poucos
se transmutasse em uma parábola mística. Dentro dessa abordagem, pode-se até
perceber que a sutileza não chega a ser uma marca muito forte na narrativa,
pois as simbologias e metáforas que surgem ao longo da trama são até óbvias nas
conexões bíblicas que sugerem. O que tornam tais figuras de linguagem
fortemente encantadoras é a encenação precisa e repleta de notáveis nuances dramáticas
arquitetada por Green. Nessa abordagem, os aspectos religiosos que permeiam o
roteiro de “O filho de Joseph” estão muito distantes dos clichês obtusos e
simplórios dos “filmes de louvor”, enfatizando muito mais o lado humanista
dessa visão mística.
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