Há um momento em “Jonas e o circo sem lona” (2015) que
sintetiza com notável sensibilidade e precisão os principais dilemas estéticos
e existenciais desse documentário brasileiro – a professora do jovem Jonas,
protagonista do filme, questiona a diretora Paula Gomes sobre a validade
artística do que ela está filmando bem como a influência negativa que a
realização do longa pode estar causando ao menino, ressaltando ainda que muito
do que foi registrado pode não corresponder à “realidade”, pois, segundo a
educadora, Jonas estaria representando algo que ele efetivamente não é. O
primeiro terço da narrativa mostra o cotidiano do garoto, em uma cidade
interiorana da Bahia, focando com maior ênfase a sua luta para manter um
pequeno circo amador com seus amigos. A referida fala da professora,
entretanto, é que caracteriza com contundência a verdadeira natureza do filme.
Ao invés de um conto de superação das dificuldades sócio-econômicas de um
determinado indivíduo, o que se consolida é uma sutil discussão sobre qual
seria a efetiva natureza de um documentário, a do registro objetivo dos fatos
como eles são ou a de uma concepção que se proponha como a captação de um
fragmento ou reflexo da realidade. Paula Gomes não entrega uma resposta pronta
para essa discussão. Ela acredita na possibilidade da união dessas visões distintas,
em que mesmo aquilo que é encenado traz dentro de si uma desconcertante
verdade. Esse subtexto do roteiro, entretanto, não afeta o aspecto emocional da
narrativa. Pelo contrário: integra-se com naturalidade e coerência com a
temática do filme, que dessa forma se configura como uma delicada e melancólica
crônica sobre a perda da inocência.
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