sexta-feira, março 23, 2018

Western, de Valeska Grisebach ***1/2


Em um primeiro momento, “Western” (2017) parece evocar algo da filmografia do diretor alemão Werner Herzog, principalmente daquelas obras em que o cineasta faz um registro da natureza marcado pela crueza. Não dá para dizer, entretanto, que o filme de sua conterrânea Valeska Grisebach se limita a uma mera reciclagem de influências. A abordagem da cineasta se vale de uma abordagem realista e sem excessos sentimentais manipuladores para formatar uma sóbria narrativa carregada de simbologia francamente humanista. A direção de fotografia não se limita em reduzir seus belos enquadramentos de florestas e vilas interioranas a um óbvio caráter de cartão postal – há um conceito imagético-existencial em que tais cenários trazem uma carga metafórica de um universo paralelo/perdido, o que está em perfeita sintonia com o cerne temático de seu roteiro, que é o conflito entre os operários alemães “civilizados” e os rústicos nativos búlgaros em meio a obras no interior do país desses últimos. Nesse sentido, a figura do protagonista Meinhard (Meinhard Neumann) é fundamental na exposição dos principais conflitos e dilemas da trama. Silencioso e algo curioso, o personagem procura trafegar com alguma naturalidade entre esses dois mundos aparentemente opostos, fazendo com que venha à tona uma série de sentimentos e sensações entre os lados, principalmente no que diz respeito a preconceitos, intolerâncias, mesquinharias e desconfianças. Ou seja, uma sutil parábola moral-filosófica que expõe em seu subtexto alguns dos principais conflitos sócio-culturais-políticos pelos quais passa a sociedade contemporânea. “Western” não se limita a fazer sociologia. Há sagacidade e desenvoltura na encenação proposta por Grisebach, com uma narrativa de ritmo sereno em sua condução, mas que, no entanto, esconde em seu desenvolvimento uma profusão de ações e situações que envolvem o espectador de maneira sedutora.

Nenhum comentário: