Em um primeiro momento, “Western” (2017) parece evocar algo
da filmografia do diretor alemão Werner Herzog, principalmente daquelas obras
em que o cineasta faz um registro da natureza marcado pela crueza. Não dá para
dizer, entretanto, que o filme de sua conterrânea Valeska Grisebach se limita a
uma mera reciclagem de influências. A abordagem da cineasta se vale de uma
abordagem realista e sem excessos sentimentais manipuladores para formatar uma
sóbria narrativa carregada de simbologia francamente humanista. A direção de
fotografia não se limita em reduzir seus belos enquadramentos de florestas e
vilas interioranas a um óbvio caráter de cartão postal – há um conceito
imagético-existencial em que tais cenários trazem uma carga metafórica de um
universo paralelo/perdido, o que está em perfeita sintonia com o cerne temático
de seu roteiro, que é o conflito entre os operários alemães “civilizados” e os
rústicos nativos búlgaros em meio a obras no interior do país desses últimos.
Nesse sentido, a figura do protagonista Meinhard (Meinhard Neumann) é fundamental
na exposição dos principais conflitos e dilemas da trama. Silencioso e algo
curioso, o personagem procura trafegar com alguma naturalidade entre esses dois
mundos aparentemente opostos, fazendo com que venha à tona uma série de
sentimentos e sensações entre os lados, principalmente no que diz respeito a
preconceitos, intolerâncias, mesquinharias e desconfianças. Ou seja, uma sutil parábola
moral-filosófica que expõe em seu subtexto alguns dos principais conflitos
sócio-culturais-políticos pelos quais passa a sociedade contemporânea. “Western”
não se limita a fazer sociologia. Há sagacidade e desenvoltura na encenação
proposta por Grisebach, com uma narrativa de ritmo sereno em sua condução, mas
que, no entanto, esconde em seu desenvolvimento uma profusão de ações e
situações que envolvem o espectador de maneira sedutora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário