terça-feira, março 27, 2018

Minha amiga do parque, de Ana Katz ***1/2


De vez em quando aparece alguma produção que mostra que o cinema argentino contemporâneo é bem mais que melodramas bem-comportados estrelados por Ricar do Darin. “Minha amiga do parque” (2015) é uma dessas obras de exceção. O filme da atriz, roteirista e atriz Ana Katz começa de maneira beirando o previsível, ao mostrar o cotidiano da protagonista Liz (Julieta Zylberberg) e seu filho ainda bebê enquanto o marido está viajando a trabalho. Aos poucos, a narrativa vai ganhando contornos de maior tensão e mistério, principalmente no momento que entra em cena Rosa (Katz). É como se Liz ingressasse em um universo à parte, em que as regras de convivência “civilizada” tipicamente pequeno-burguesas se dissolvessem de forma sutil e perversa. Por mais que os modos e atitudes atribulados de Rosa perturbem Liz, há uma perturbadora atração dessa última por essa vida instável e mais desafiadora dos padrões vigentes. A encenação proposta por Katz para essa intimista saga existencial evita o óbvio e o maniqueísta, valorizando pequenos gestos e silêncios expressivos entre as personagens. A forte densidade dramática e a discreta ironia da trama também são valorizadas pela crueza imagética da direção de fotografia, pelo intenso ritmo narrativo e pelas viscerais interpretações de Katz e Zylberberg.

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