O diretor José Eduardo Belmonte é o responsável por duas
obras marcantes do cinema brasileiro desse século, “A concepção” (2005) e “Se
nada mais der certo” (2008), produções essas que retratam uma espécie de mal
estar da classe média contemporânea perante uma realidade complexa e instável.
Tais obras refletiam também as obsessões comportamentais, culturais e até mesmo
religiosas de Belmonte, reforçando um forte traço autoral na sua
cinematografia. “Alemão” (2013) foi um filme que se desviou desse padrão mais
pessoal de realização, com o diretor enveredando pelo gênero policial com um viés
melodramático, tendo por resultado final um trabalho derivativo. “O gorila” (2011)
é um exemplar das concepções mais particulares de Belmonte filmar. Há um certo
abuso de clichês sentimentais e estéticos – o uso ostensivo de música clássica
(com destaque para o “Adagietto” de Gustav Mahler, remetendo para a obra-prima “Morte
em Veneza), sequências delirantes de iluminação estourada, psicologismos de
almanaque. Fica evidente também, entretanto, que Belmonte consegue construir
algumas sequências marcantes em termos de tensão e atmosfera, graças a um
roteiro repleto de situações e diálogos bem construídos (a cena em que o
protagonista Afrânio fica cercado por evangélicos é antológica pelo seu teor inconformista
e raivoso), além de um ótimo trabalho de caracterização de personagens, com
destaque para as atuações oscilando entre o carismático e o assustador de Otávio
Muller e Milhem Cortaz. No mais, o diretor mostra ainda que continua a ser um
cronista cinematográfico pertinente dos desajustados e perturbados do Brasil
atual.
Nenhum comentário:
Postar um comentário