sexta-feira, agosto 07, 2015

O gorila, de José Eduardo Belmonte ***


O diretor José Eduardo Belmonte é o responsável por duas obras marcantes do cinema brasileiro desse século, “A concepção” (2005) e “Se nada mais der certo” (2008), produções essas que retratam uma espécie de mal estar da classe média contemporânea perante uma realidade complexa e instável. Tais obras refletiam também as obsessões comportamentais, culturais e até mesmo religiosas de Belmonte, reforçando um forte traço autoral na sua cinematografia. “Alemão” (2013) foi um filme que se desviou desse padrão mais pessoal de realização, com o diretor enveredando pelo gênero policial com um viés melodramático, tendo por resultado final um trabalho derivativo. “O gorila” (2011) é um exemplar das concepções mais particulares de Belmonte filmar. Há um certo abuso de clichês sentimentais e estéticos – o uso ostensivo de música clássica (com destaque para o “Adagietto” de Gustav Mahler, remetendo para a obra-prima “Morte em Veneza), sequências delirantes de iluminação estourada, psicologismos de almanaque. Fica evidente também, entretanto, que Belmonte consegue construir algumas sequências marcantes em termos de tensão e atmosfera, graças a um roteiro repleto de situações e diálogos bem construídos (a cena em que o protagonista Afrânio fica cercado por evangélicos é antológica pelo seu teor inconformista e raivoso), além de um ótimo trabalho de caracterização de personagens, com destaque para as atuações oscilando entre o carismático e o assustador de Otávio Muller e Milhem Cortaz. No mais, o diretor mostra ainda que continua a ser um cronista cinematográfico pertinente dos desajustados e perturbados do Brasil atual.

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