segunda-feira, agosto 31, 2015

Filme sobre um Bom Fim, de Boca Migotto ***

O título desse documentário dirigido por Boca Migotto é uma bela sacada conceitual e sintetiza com perfeição o próprio espírito da obra. “Filme sobre um Bom Fim” (2015) não se refere apenas a uma localidade física, mas também, e principalmente, a uma gama de sensações e desejos que brotaram e se expandiram de forma intensa nos anos 80. Ao longo da narrativa, há um número considerável de entrevistados, cuja maioria dos depoimentos se mostra relevante por diversos fatores. Por vezes há uma unidade nessa percepção coletiva sobre o significado do que ocorreu naquele período. Em outros momentos, entretanto, as declarações se mostram contraditórias, oscilando entre a profundidade histórica e o anedótico, a amargura pragmática e a pura louvação idealista. Esse desencontro de ideias e opiniões valida ainda mais o trabalho de Migotto, dando-lhe uma maior dimensão humana e densidade existencial, retirando o filme daquilo poderia parecer um vídeo institucional. Pode-se sentir raiva dos monólogos exagerados e narcisistas de Peninha Bueno, admirar a aguda visão sociológica de Juremir Machado Silva ou simpatizar com os causos narrados pelos donos dos bares Ocidente e Escaler. O mais interessante, contudo, é o quadro geral formado por essas diferentes perspectivas que parece configurar uma verdadeira dimensão paralela que se formou dentro de uma área específica de Porto Alegre.


As escolhas formais para contar essa saga cultural podem parecer conservadoras e convencionais, obedecendo àquela tradicional equação de entrevistas e farto material de arquivo, mas a opção declarada de Migotto era evidenciar a história daquele período pela ótica daqueles que ajudaram a construir aquele cenário artístico e comportamental. Dentro dessa concepção, “Filme sobre um Bom Fim” funciona de forma eficaz como um retrato fiel e vigoroso de uma geração.

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