No melhor e no pior de sua filmografia, o cinema do diretor
italiano Giuseppe Tornatore é marcado por uma conturbada síntese entre
barroquismo pomposo e exagerado e uma forte carga sentimental (que por vezes
cai no cativante, por vezes afunda na breguice). “A lenda do pianista do mar”
(1998) é um dos seus trabalhos em que essa sua habitual fórmula se revela
melhor acabada. A partir de um roteiro repleto de alegorias e melodrama, a
produção apresenta estética e atmosfera que evocam o delírio e o onirismo que
marcaram algumas das produções mais emblemáticas de Federico Fellini (nesse
sentido, “E la nave va”, por sua ambientação igualmente marinha, seja a conexão
mais próxima). O encantador tom artificialista da fotografia e a música
exuberante de Ennio Morricone colaboram nessa atraente orientação irreal da
narrativa. Por outro lado, há um excesso de teor caricatural na caracterização
de personagens e situações e soluções convencionais em demasia no roteiro, o que
retira muito do potencial de tensão dramática do filme. Mas ainda que fique
esse gosto de inconsistência, o saldo final é positivo por algumas já aludidas
ousadias na construção de sua linguagem, e por ser, de certa forma, um enfático
exemplar dos dilemas artísticos de Tornatore.
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