O grande acerto de “Rogue One – Uma história Star Wars”
(2016) é que há foco e conceito muito bem definidos – o fato de ser um spin-off
faz com que a ênfase esteja numa abordagem mais sórdida e violenta tanto de seu
roteiro quanto em sua própria encenação (nesse sentido, faz lembrar um dos
melhores filmes da franquia, “A vingança dos Sith”). Ainda que a história se
refira a eventos que afetam de forma decisiva toda a saga e tenha participação marcante de Darth Vader, o filme traz aquilo
que seria o lado b do universo Star Wars, o que se reflete na caracterização de
situações e personagens e numa propensão para um detalhismo gráfico
perturbador. Nessa linha, é como se a produção resgatasse a atmosfera entre o
sombrio e o fuleiro dos vários filmes b que surgiram no lastro da obra original
de George Lucas e mesmo do universo expandido da série (quadrinhos, animações e
afins), além de revelar influências temáticas e formais de filmes de guerra
clássicos (impossível, por exemplo, não lembrar da missão suicida e das figuras
trágicas da obra-prima “Os doze condenados”). Pode ser que tais referências
sugiram uma espécie de colcha de retalhos narrativa, mas o diretor Gareth
Edwards consegue sintetizar tais influências diversas com notável precisão,
fazendo com que o que era para ser um aperitivo em relação aos filmes “principais”
da franquia acabe ganhando uma dimensão artística bem mais ampla. Há em “Rogue
One” qualidades que estavam ausentes em “O despertar da força” (2015) – cenas de
ação com efetiva carga de tensão dramática e coreografadas de maneira
memorável, personagens com carga psicológica mais complexa e delineada (o
espião assassino em crise existencial interpretado por Diego Luna, por exemplo,
é um personagem muito bem construído), roteiro bem equilibrado na delimitação
dos dilemas dramáticos e da aventura alucinada. Diante de todos esses pontos
positivos, “Rogue One” faz com que a retomada da franquia “Star Wars” se afaste
bastante da mera picaretagem marqueteira que “O despertar da força” fazia supor.
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