O chileno Pablo Larrain é um diretor que apresenta um certo
grau de teor autoral e ousadia em sua filmografia. Em seus melhores momentos,
como “No” (2012) e “O clube” (2015), conseguiu obter uma expressiva síntese de
formalismo inquietante e temática de forte teor contestatório. Dessa forma, sua
obra mais recente, “Neruda” (2016), acaba parecendo frustrante diante de seus
trabalhos anteriores. Não que seja propriamente um filme ruim. Dá para perceber
em algumas passagens da produção ideias estéticas bem sacadas, como a estilização
da narrativa carregada de simbologias, o uso insólito de truques digitais e a
atmosfera hedonista e algo delirante de determinadas sequências, e mesmo uma
perspectiva histórica sobre o tema, a fuga do poeta e político Pablo Neruda (Luis
Gnecco) durante o período em que o seu partido comunista foi declarado ilegal
no Chile, que tem um certo aprofundamento psicológico e existencial. O grande
problema do filme, entretanto, é que esses aspectos positivos não se integram
de maneira orgânica diante de um teor indulgente na execução dessa concepção
intrincada. Faltou um rigor artístico mais contundente na condução da narrativa
por parte de Larrain, o que faz com que o filme em alguns momentos descambe
para o melodrama brega e barato, o que fica evidente na caracterização
canastrona de Gael Garcia Bernal como o antagonista Oscar Peluchoneau e na
preguiçosa plasticidade de várias cenas.
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