quinta-feira, maio 11, 2017

Elon não acredita na morte, de Ricardo Alves Junior **1/2

O diretor Ricardo Alves Junior busca uma ousada síntese de drama social, suspense e horror em “Elon não acredita na morte” (2016). Para isso, constrói uma narrativa em que na maioria das suas sequências predomina encenação e ambientação de tons realistas, mas que em momentos cruciais recebe pinceladas de elementos fantásticos. O roteiro do filme procura combinar uma trama envolvendo uma certa linha investigativa e de tons misteriosos, no que diz respeito à procura obsessiva do protagonista Elon (Rômulo Braga) pela esposa desaparecida, com passagens que evidenciam flagras do cotidiano do personagem principal envolvendo precariedade e opressão sócio-econômicas. Há sobriedade e rigor formais na concepção audiovisual da obra, o que colabora para que haja alguma tensão e angústia para a história. Ou seja, todo o método artístico do cineasta fica evidente em cada fotograma da obra. Esse excesso de controle estético-existencial, entretanto, faz com que a narrativa seja pouco envolvente para o espectador, além de resultar num roteiro que vai se revelando cada vez mais previsível em seus desdobres dramáticos – de certa, é como se observássemos um texto ficcional que que se prende de maneira excessiva a regras acadêmicas de cursos de roteiros. Falta ao filme momentos em que as coisas saiam da casinha, alguma transcendência, que só se insinua na bela sequência de sexo entre Elon e a esposa. É claro que há o destaque positivo das boas composições dramáticas do elenco, mas “Elon não acredita na morte”, no geral, se mostra frustrante pela sua mecânica bem-comportada, distante, por exemplo, do clima de insano conto gótico cinematográfico de “Quando eu era vivo” (2014), obra que em termos de proposta artística se aproxima do filme de Ricardo Alves Junior.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Eu gostei, muito embora não seja um filme que irá agradar a todos