Em tempos de domínio político de ideias fascistas e
reacionárias, um filme como “O jovem Karl Marx” (2017) tem uma função cultural
e humanista bastante relevante. Há um cuidado nessa produção dirigida por Raoul
Peck em expor alguns dos principais fundamentos das teorias marxistas sócio-econômicas
de maneira mais direta e acessível, sem um excessivo verniz acadêmico, além de
contextualizar com alguma fidelidade histórica todo o contexto em que o
protagonista do filme estava inserido ao criar alguns dos seus textos mais
importantes. Peck também teve uma boa sacada ao colocar nos créditos finais
cenas documentais de fundamentais fatos que marcaram os séculos XX e XXI, evidenciando
como as ideias de Marx ainda têm forte ressonância nos dias atuais. O problema
dessa cinebiografia, entretanto, é que sua formatação artística está bem
distante do espírito libertário e de profundidade analítica que eram
característicos de seu principal personagem. O filme se vincula a estética e
narrativa excessivamente convencionais, dando a impressão em diversos momentos
para o espectador de que está vendo algum telefilme careta qualquer, na linha
dessas assépticas e derivativas minisséries globais. Até dá para entender que
essa linha artística conservadora adotada tenha por intenção tornar a obra mais
atraente para um grande público, vide ainda a caracterização idealizada da
figura de Marx no filme. É de se convir também, todavia, que tal opção da
produção lhe tira muito em termos de contundência formal e temática,
deixando-lhe léguas de distância de obras-primas do cinema político panfletário
como “O encouraçado Potenkim” (1925) ou “A batalha de Argel” (1966).
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