segunda-feira, janeiro 08, 2018

The square - A arte da discórdia, de Ruben Östlund ***

Apesar de sua trama se concentrar na figura do protagonista Christian (Claes Bang), a narrativa de “The square – A arte da discórdia” (2017) tem algo de fragmentada, com as situações do roteiro se sucedendo quase de forma episódica, por vezes beirando uma espécie de anedotário dos absurdos e ridículos da sociedade europeia do século XXI. A própria configuração psicológica do personagem principal obedece a um direcionamento que sintetiza simbolismo e caricatura – ele é o protótipo do macho branco ocidental civilizado que por trás de uma máscara de gentileza e erudição esconde mesquinharias e preconceitos. Nessa levada, a proposta artística-existencial do filme dirigido por Ruben Östlund fica embretada entre uma forte veia irônica e um viés humanista, com uma trama que se pretende a retratar os principais dilemas políticos, sociais e culturais da Europa contemporânea. Por vezes, a pretensão do cineasta cai em obviedades e simplificações excessivas, principalmente na forma jocosa e conservadora com que expõe sua visão sobre as artes plásticas e conceituais dos últimos anos. Nesse sentido, por exemplo, o extraordinário romance “O mapa e o território” de Michel Houellebecq apresenta um subtexto mais lúcido e aprofundado sobre o papel da arte no mundo atual. “The square” tem seus momentos mais memoráveis quando abdica do seu tom discursivo e embarca numa abordagem mais delirante e nebulosa, vide a antológica sequência em que um artista emula o comportamento de um selvagem pré-histórico em um refinado jantar para um público refinado e endinheirado, em um enlouquecido happening levado às últimas consequências.

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