Os primeiros minutos de “Roda gigante” (2017) são bastante
promissores, principalmente pelo fato de ficarem mais em evidência a belíssima fotografia
de Vittorio Storaro e uma direção de arte primorosa que combina na medida exata
realismo e estilização. Quando a encenação efetivamente começa, entretanto, o
filme de Woody Allen desanda de maneira fragorosa. A impressão constante é de
uma peça teatral a parodiar de forma involuntária grandes clássicos da
dramaturgia norte-americana, ainda que embalada por uma concepção imagética
deslumbrante. Por mais que se critique Allen de ser um cineasta que tem o
hábito recorrente de autoreciclar, a verdade é que nessa sua produção mais
recente como diretor ele frustra justamente por não apresentar os seus traços
autorais mais característicos – a narrativa é tediosa na sua falta de fluidez,
o roteiro é genérico nas caracterizações de personagens e situações e também
destituído de verve e ironia convincentes, o desempenho do elenco varia
incomodamente entre atuações inexpressivas, caricaturais ou exageradas. E a
decepção com tais equívocos artísticos fica ainda maior quando se pensa que
Allen teve alguns de seus melhores momentos da sua carreira de cineasta no
gênero dos filmes de época, vide trabalhos antológicos como “A era do rádio” (1987)
ou “Tiros na Broadway” (1994). E mesmo no nostálgico “Café Society” (2016) a
preferência por uma narrativa mais estilizada teve um resultado final bem mais
satisfatório.
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