sexta-feira, janeiro 05, 2018

Roda gigante, de Woody Allen **1/2

Os primeiros minutos de “Roda gigante” (2017) são bastante promissores, principalmente pelo fato de ficarem mais em evidência a belíssima fotografia de Vittorio Storaro e uma direção de arte primorosa que combina na medida exata realismo e estilização. Quando a encenação efetivamente começa, entretanto, o filme de Woody Allen desanda de maneira fragorosa. A impressão constante é de uma peça teatral a parodiar de forma involuntária grandes clássicos da dramaturgia norte-americana, ainda que embalada por uma concepção imagética deslumbrante. Por mais que se critique Allen de ser um cineasta que tem o hábito recorrente de autoreciclar, a verdade é que nessa sua produção mais recente como diretor ele frustra justamente por não apresentar os seus traços autorais mais característicos – a narrativa é tediosa na sua falta de fluidez, o roteiro é genérico nas caracterizações de personagens e situações e também destituído de verve e ironia convincentes, o desempenho do elenco varia incomodamente entre atuações inexpressivas, caricaturais ou exageradas. E a decepção com tais equívocos artísticos fica ainda maior quando se pensa que Allen teve alguns de seus melhores momentos da sua carreira de cineasta no gênero dos filmes de época, vide trabalhos antológicos como “A era do rádio” (1987) ou “Tiros na Broadway” (1994). E mesmo no nostálgico “Café Society” (2016) a preferência por uma narrativa mais estilizada teve um resultado final bem mais satisfatório.

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