A intenção de Steven Spielberg em “The Post – A guerra
secreta” (2016) é clara e simples – a releitura moderna do gênero thriller político
aos moldes de determinadas produções norte-americanas setentistas, como “Todos
os homens do presidente” (1976) ou “Três dias de condor” (1975). De certa
forma, ele já tinha feito esse tipo de recriação no brilhante “Munique” (2005).
Nesse trabalho mais recente, entretanto, o resultado final foi menos satisfatório.
Há alguns momentos no filme, principalmente ali pelo segundo terço da
narrativa, que dá para sentir aquela boa pegada tradicional de Spielberg em
termos de encenação e montagem, em que a dinâmica engendrada pelo diretor
consegue criar uma certa atmosfera de tensão envolvente. Mas o que acaba
efetivamente predominando em “The Post” é uma narrativa mofada e esquemática
que dá a constante impressão de que Spielberg conduz tudo no piloto automático.
As sequências iniciais de guerra, por exemplo, tem uma desenvoltura artificial
e asséptica, em nada lembrando o cineasta que criou inesquecíveis épicos bélicos
como “Império do sol” (1987) ou “O resgate do soldado Ryan” (1998). A forma
como a perspectiva histórica se mostra em cena também é primária e enfadonha,
sugerindo por vezes uma desenvoltura de documentário institucional corriqueiro.
E o terço final de “The Post” guarda seus principais equívocos, com Spielberg
abusando de óbvios e apelativos truques narrativos e textuais. Faltou para o
diretor a notável sobriedade estética e temática com que Martin Scorsese, seu
colega contemporâneo da Nova Hollywood, conduziu a narrativa no extraordinário “Silêncio”
(2016).
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