Junto à “Tangerine”
(2015), “Projeto Flórida” (2017) faz com que o diretor Sean Baker possa ser
caracterizado como um cronista dos deserdados dos Estados Unidos. Se no filme
anterior o foco da trama se concentrava em um dia agitado na vida de dois travestis,
nessa obra mais recente é mostrada a história de Halley (Bria Vinaite), uma mãe
solteira desempregada, tentando criar a filha Moonee (Brooklynn Prince) em um
subúrbio da Flórida. A diferença agora é que a abordagem formal e narrativa de
Baker apresenta um maior grau de refinamento. Vale ressaltar, entretanto, que
isso não faz com que ele perca aquela crueza contundente que era parte dos
encantos artísticos de “Tangerine”. A história se alterna entre as brincadeiras
endiabradas de Moonee com amigos por conjuntos residenciais fuleiros, sua
relação carinhosa com a mãe e os percalços sócios econômicos de Halley para
garantir a subsistência da família envolvendo pequenos trambiques e
prostituição. Em termos temáticos, pode-se perceber que não há grandes surpresas
em “Projeto Flórida”. O segredo do filme está na encenação vigorosa concebida
por Baker e por uma beleza imagética insólita que por vezes faz com que certos
aspectos banais do cotidiano ganhem um inesperado tom épico. Além disso, há uma
sobriedade emocional na forma que os temas intimistas e sociais da história são
tratados – por mais que as atitudes inconsequentes de Moonee levem a previsíveis
consequências desagradáveis, não há um viés moralista em tais soluções do
roteiro. A constatação passa mais por algo considerado inexorável de acordo com
uma sociedade moralista e hipócrita em que as personagens estão inseridas.
Um comentário:
Um pequeno grande filme e que deveria ter tido maior visibilidade
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