O que diferencia “Corrente do mal” (2014) da maioria
esmagadora do que se faz atualmente em termos de cinema de horror não é uma
questão de que o filme do diretor David Robert Mitchell tenha uma abordagem
revolucionária ou opte por estruturas formais e temáticas convencionais.
Nenhuma das duas opções seria garantia absoluta de que a produção fosse bem
sucedida. Afinal, “A bruxa de Blair” (1999), grande referência estética para o
gênero terror nos últimos anos, é muito mais um fenômeno de marketing do que
propriamente um grande marco artístico. O que torna “Corrente do mal” uma das
melhores obras de horror contemporâneas é a elegância e criatividade com que
Mitchell conduz sua narrativa. Ele se vale de algumas referências visuais e
conceituais de traço atemporal, que parecem configurar uma dimensão paralela
onde a trama se desenvolve – a trilha sonora baseada em estruturas melódicas e
harmônicas nervosas e repetitivas (nos moldes do que John Carpenter fez em
alguns de seus melhores trabalhos), os personagens que gostam de ficar assistindo
na televisão filmes baratos de ficção científica dos anos 50, a garota que lê
clássicos literários num celular estilizado. Esses elementos, num primeiro
momento, podem soar aleatórios, mas aos poucos começam a fazer sentido
inseridos dentro do formalismo classudo concebido por Mitchell. A magnífica
direção de fotografia extrai planos expressivos e de beleza plástica sombria, caracterizando
uma atmosfera de um verdadeiro conto gótico. Mitchell brinca com alguns clichês
inerentes ao gênero, mas todos eles vêm remodelados sob uma ironia perversa.
Assim, a maldição que ronda o sexo entre adolescentes traz uma carga de
moralismo sarcástico, acentuando ainda mais o caráter assustador do filme.
Algumas soluções do roteiro evocam forçações de barra típicas de filmes de
terror recente, principalmente quando os jovens personagens principais resolvem
enfrentar a força maligna que persegue a protagonista Jay (Marka Monroe). Mas isso
acaba sendo apenas mais um truque sacana de Mitchell, que serve para enfatizar
o lado atávico do mal e da inevitabilidade do destino. O genial e perturbador
final em aberto de “Corrente do mal” é o coroamento perfeito das escolhas artísticas
ousadas de Mitchell, cineasta que se mostra mais decidido a elaborar uma obra
memorável do que criar uma franquia oportunista qualquer.
Um comentário:
Assisti e recomendo. Aguarde a minha critica
Postar um comentário