terça-feira, setembro 01, 2015

Corrente do mal, de David Robert Mitchell ****

O que diferencia “Corrente do mal” (2014) da maioria esmagadora do que se faz atualmente em termos de cinema de horror não é uma questão de que o filme do diretor David Robert Mitchell tenha uma abordagem revolucionária ou opte por estruturas formais e temáticas convencionais. Nenhuma das duas opções seria garantia absoluta de que a produção fosse bem sucedida. Afinal, “A bruxa de Blair” (1999), grande referência estética para o gênero terror nos últimos anos, é muito mais um fenômeno de marketing do que propriamente um grande marco artístico. O que torna “Corrente do mal” uma das melhores obras de horror contemporâneas é a elegância e criatividade com que Mitchell conduz sua narrativa. Ele se vale de algumas referências visuais e conceituais de traço atemporal, que parecem configurar uma dimensão paralela onde a trama se desenvolve – a trilha sonora baseada em estruturas melódicas e harmônicas nervosas e repetitivas (nos moldes do que John Carpenter fez em alguns de seus melhores trabalhos), os personagens que gostam de ficar assistindo na televisão filmes baratos de ficção científica dos anos 50, a garota que lê clássicos literários num celular estilizado. Esses elementos, num primeiro momento, podem soar aleatórios, mas aos poucos começam a fazer sentido inseridos dentro do formalismo classudo concebido por Mitchell. A magnífica direção de fotografia extrai planos expressivos e de beleza plástica sombria, caracterizando uma atmosfera de um verdadeiro conto gótico. Mitchell brinca com alguns clichês inerentes ao gênero, mas todos eles vêm remodelados sob uma ironia perversa. Assim, a maldição que ronda o sexo entre adolescentes traz uma carga de moralismo sarcástico, acentuando ainda mais o caráter assustador do filme. Algumas soluções do roteiro evocam forçações de barra típicas de filmes de terror recente, principalmente quando os jovens personagens principais resolvem enfrentar a força maligna que persegue a protagonista Jay (Marka Monroe). Mas isso acaba sendo apenas mais um truque sacana de Mitchell, que serve para enfatizar o lado atávico do mal e da inevitabilidade do destino. O genial e perturbador final em aberto de “Corrente do mal” é o coroamento perfeito das escolhas artísticas ousadas de Mitchell, cineasta que se mostra mais decidido a elaborar uma obra memorável do que criar uma franquia oportunista qualquer.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Assisti e recomendo. Aguarde a minha critica