O longa-metragem mais recente do diretor norte-americano
Kenneth Lonergan, “Manchester à beira-mar” (2016), mostra-se como uma extensão
coerente de “Conte comigo” (2000), extraordinário filme anterior do mesmo
cineasta. Ambas as obras têm como temática relacionamentos familiares
disfuncionais, focando, inclusive, na relação entre tio e sobrinho, e possuem
estruturas narrativas clássicas e elegantes, além de abordagens emocionais sóbrias,
indicando um claro traço autoral por parte de Lonergan. A diferença entre os
dois trabalhos é que no mais antigo a narrativa era mais enxuta e de certo viés
irônico, enquanto “Manchester à beira-mar” se formata como um dolorido épico
existencial que transita de maneira atribulada entre passado e presente,
beirando por vezes o melodramático. Mas isso não quer dizer que o filme em
questão descambe para o dramalhão – Lonergan tem um domínio rigoroso da
narrativa, e a carrega com uma profunda carga metafórica pelo subtexto de seu
roteiro. O uso de idas e vindas no tempo tem um sutil sentido na construção
psicológica de situações e personagens, em que questões como religiosidade e relações
humanas mal resolvidas são expostas com crueza e pungência, e mesmo alguns
truques narrativos que poderiam soar óbvios e apelativos acabam recebendo um
tratamento contido e de resultado eficaz, vide o belo uso de temas de música clássica
em cenas cruciais do filme. Dentro de tal visão artística-humanista, a estética
naturalista de “Manchester à beira-mar” cai como uma luva na narrativa, em que
a dureza imagética da direção de fotografia e a serena edição realçam de
maneira contundente as sensações de melancolia e de impossibilidade de redenção
que pairam sobre a trama da obra. A direção de atores, uma das grandes
qualidades características de Lonergan, é primorosa e se mostra em perfeita
sintonia com a concepção estética-temática da produção, com destaque absoluto
para Casey Affleck no papel do protagonista Lee Chandler, em uma interpretação
repleta de notáveis nuances (é de se reparar as variações de composições dramáticas
de Affleck de acordo com as mudanças de planos temporais ao longo da narrativa),
e a sequência com a conversa final entre Lee e a ex-esposa Randi (Michelle Williams)
é antológica na intensidade e delicadeza nas interpretações de Affleck e
Williams e na própria encenação elaborada por Lonergan.
Um comentário:
belo filme
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