A concepção narrativa e a temática de “Fátima” (2015) remetem
o filme para um viés melodramático. Em termos formais a obra é convencional e a
sua trama é uma conjunção de elementos marcados pela previsibilidade. Ainda
assim, a produção francesa dirigida por Philippe Faucon consegue ser envolvente
e plena de tensão dramática devido à sua abordagem emocional sóbria, ao rigor
da encenação e a um roteiro que sabe ressaltar com sensibilidade e lucidez
perturbadoras as complexidades e sutilezas da questão da vida dos imigrantes na
França. O filme dispensa maniqueísmos e soluções fáceis – assim como disseca de
maneira crítica a exploração e o preconceito sofridos por imigrantes e
descendentes em seu dia-a-dia, também mostra um olhar de contestação sobre os valores
culturais ditos “tradicionais” propagados pela religião muçulmana que na
prática tem uma função primordial de opressão moral e de incentivar o
obscurantismo. Nesse sentido, o subtexto da obra tem um caráter até libertário
ao sugerir uma possibilidade de mudança e transcendência pela educação e pela
arte. A contundência desse conteúdo é amplificada pelas interpretações
vigorosas do elenco, principalmente das garotas que atuam nos papéis das irmãs
Nesrine e Souad.
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