terça-feira, abril 04, 2017

Fátima, de Philippe Faucon ***

A concepção narrativa e a temática de “Fátima” (2015) remetem o filme para um viés melodramático. Em termos formais a obra é convencional e a sua trama é uma conjunção de elementos marcados pela previsibilidade. Ainda assim, a produção francesa dirigida por Philippe Faucon consegue ser envolvente e plena de tensão dramática devido à sua abordagem emocional sóbria, ao rigor da encenação e a um roteiro que sabe ressaltar com sensibilidade e lucidez perturbadoras as complexidades e sutilezas da questão da vida dos imigrantes na França. O filme dispensa maniqueísmos e soluções fáceis – assim como disseca de maneira crítica a exploração e o preconceito sofridos por imigrantes e descendentes em seu dia-a-dia, também mostra um olhar de contestação sobre os valores culturais ditos “tradicionais” propagados pela religião muçulmana que na prática tem uma função primordial de opressão moral e de incentivar o obscurantismo. Nesse sentido, o subtexto da obra tem um caráter até libertário ao sugerir uma possibilidade de mudança e transcendência pela educação e pela arte. A contundência desse conteúdo é amplificada pelas interpretações vigorosas do elenco, principalmente das garotas que atuam nos papéis das irmãs Nesrine e Souad.

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