quinta-feira, abril 27, 2017

Joaquim, de Marcelo Gomes **1/2

A sequência de abertura de “Joaquim” (2017) entrega logo de cara aqueles que são os principais problemas do filme do diretor Marcelo Gomes: um roteiro repleto de excessos textuais e pouco sutil que atravanca a narrativa. Em termos de teoria do que era para ser a sua concepção estética-temática, a produção era até bem promissora – sob uma perspectiva naturalista e vigorosa, seria recriada a história do herói nacional Tiradentes antes da sua definitiva tomada de consciência sócio-política em relação às mazelas existenciais do Brasil colônia. Em certas sequências, pode-se até perceber que tais intenções conseguem ser colocadas em prática, principalmente pela encenação por vezes de forte dinâmica, pela ótima direção de arte e pela intensidade da atuação de Júlio Machado no papel do protagonista. Ocorre, entretanto, que Gomes permite que paire por diversos momentos no filme uma certa atmosfera solene e artificial, como se “Joaquim” tivesse um caráter institucional destinado a exibição em escolas e afins, tamanha a prolixidade desnecessária de alguns diálogos e a caracterização caricata de algumas situações da trama. O subtexto é jogado na cara do espectador sem muita cerimônia, quando o mais acertado seria valorizar o aspecto imagético para realçar a visão de mundo da trama. Ou seja, chega a parecer em algumas sequências que se está assistindo a alguma minissérie de fundo histórico da Globo. Tais equívocos da produção chegam a ser surpreendentes, pois Gomes já tinha mostrado em trabalhos anteriores um domínio de linguagem cinematográfica baseada em fascinantes nuances, vide filmes memoráveis como “Cinema, aspirinas e urubus” (2004), “Viajo porque preciso, volto porque te amo” (2009) e “Era uma vez eu, Verônica” (2012).

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