A sequência de abertura de “Joaquim” (2017) entrega logo de
cara aqueles que são os principais problemas do filme do diretor Marcelo Gomes:
um roteiro repleto de excessos textuais e pouco sutil que atravanca a
narrativa. Em termos de teoria do que era para ser a sua concepção
estética-temática, a produção era até bem promissora – sob uma perspectiva
naturalista e vigorosa, seria recriada a história do herói nacional Tiradentes
antes da sua definitiva tomada de consciência sócio-política em relação às
mazelas existenciais do Brasil colônia. Em certas sequências, pode-se até
perceber que tais intenções conseguem ser colocadas em prática, principalmente
pela encenação por vezes de forte dinâmica, pela ótima direção de arte e pela
intensidade da atuação de Júlio Machado no papel do protagonista. Ocorre,
entretanto, que Gomes permite que paire por diversos momentos no filme uma
certa atmosfera solene e artificial, como se “Joaquim” tivesse um caráter
institucional destinado a exibição em escolas e afins, tamanha a prolixidade
desnecessária de alguns diálogos e a caracterização caricata de algumas
situações da trama. O subtexto é jogado na cara do espectador sem muita
cerimônia, quando o mais acertado seria valorizar o aspecto imagético para
realçar a visão de mundo da trama. Ou seja, chega a parecer em algumas
sequências que se está assistindo a alguma minissérie de fundo histórico da
Globo. Tais equívocos da produção chegam a ser surpreendentes, pois Gomes já
tinha mostrado em trabalhos anteriores um domínio de linguagem cinematográfica
baseada em fascinantes nuances, vide filmes memoráveis como “Cinema, aspirinas
e urubus” (2004), “Viajo porque preciso, volto porque te amo” (2009) e “Era uma
vez eu, Verônica” (2012).
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