O cinema autoral do diretor norte-americano Jim Jarmusch
parte, pelo menos, de dois preceitos – um temático, em que as suas tramas giram
em torno de personagens outsiders, que parece trafegar em um universo fora do
tempo e do espaço; e outro estético, em que a narrativa se baseia em recursos
minimalistas, valorizando silêncios expressivos e atmosferas de certa distância
emocional e ironia amarga. “Paterson” (2016) é um exemplar enfático do modus
operandi de Jarmusch, ainda que revele em determinadas passagens uma queda por
um certo convencionalismo. A poesia baseada no cotidiano é o grande tema da
trama, e o estilo peculiar e rigoroso do cineasta cai como uma luva dentro
dessa concepção de conteúdo. A grande fonte de inspiração do protagonista
Paterson (Adam Driver), poeta e motorista de ônibus, vem da discreta e acurada
observação que faz dos pequenos gestos e dramas que ocorrem à sua volta na sua
rotina profissional e pessoal, com direito, por vezes, ao que o inesperado e o
insólito entrem em cena. Roteiro e encenação demonstram uma bela síntese de
sensibilidade e precisão na maneira como delineiam as nuances de seus
desdobramentos – vários detalhes da vida de Paterson são apenas sugeridos,
principalmente no que diz respeito ao seu passado e às suas motivações, e a
grande sacada para a forte empatia do personagem e do próprio filme está
justamente nessas “pontas soltas” da trama. O segredo da perenidade da
filmografia de Jarmusch está justamente nessa estranha e encantadora combinação
entre o banal e o misterioso.
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