Uma das coisas que dá para perceber ao se assistir a “Brooklin”
(2015) é que o livro original no qual o seu roteiro se baseou deve ser
realmente bem interessante. A trama tem significativa profundidade dramática,
com uma história que apresenta um rico subtexto ao abordar preconceitos sociais
e amadurecimento pessoal. Além disso, alguns diálogos encantam pelo tom
espirituoso e repleto de sutilezas. O problema do filme de John Crowley está na
sua concretização como narrativa cinematográfica. É como se a abordagem
artística do cineasta estivesse fora de sintonia com a sua parte textual. A
produção opta por um constante e equivocado tom solene na sua encenação e
atmosfera. Cada cena relevante sempre vem acompanhada por uma pomposa
composição cênica e por temas instrumentais excessivos e piegas. Dessa forma,
mesmo a aludida qualidade textual da trama e das falas acaba prejudicada,
soando por vários momentos como xaroposas e edificantes lições de vida. O
mérito de se ter uma história cativante e cheia de significados existenciais é
posto a perder diante de truques melodramáticos forçados – é de se notar a
profusão de cenas de personagens olhando para o horizonte a simular reflexão ou
o excesso de atuações afetadas a simular fleuma britânica. Pode parecer até
covardia a comparação, mas falta para Crowley aquela centelha de criatividade e
elegância de David Lean que transformava simples dramas românticos e sociais em
memoráveis épicos sentimentais.
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