A estrutura narrativa da cinebiografia “Violette” (2013) é
marcada por um rigoroso academicismo. Para o diretor Martin Provost, o enfoque
maior da obra está na história de vida da escritora francesa Violette Leduc
(Emmanuelle Devos) e também na caracterização do contexto histórico e social no
qual ela estava envolvida, sendo que grandes ousadias estéticas não seriam a
prioridade para o cineasta. Ainda que opte por essa abordagem convencional, é
de se reconhecer que o estilo classicista de Provost é executado com sobriedade
e sutileza. Seu formalismo consegue realçar tanto as particularidades da época
retratada quanto a personalidade complexa de sua protagonista. O roteiro do
filme é exemplar no sentido de como colocar em evidência aquilo que interessa
numa biografia – ao invés de fazer um resumo simplista de fatos, a trama expõe
de maneira profunda os dilemas políticos e existenciais que marcaram boa parte
do século XX dentro da relação que se estabelece entre Violette e a filósofa
Simone de Beauvoir (Sandrine Kiberlain). Tormentos sentimentais, contestações
comportamentais e preconceitos morais são dissecados a partir de uma
perspectiva artística franca e madura e que mesmo para os dias de hoje consegue
soar bastante desafiadora. Provost ainda tem o mérito de conseguir extrair
desempenhos antológicos de suas atrizes principais, com a visceral Devos dando
vazão a uma expressiva gama de sentimentos e reações contraditórios e brutais,
enquanto Kiberlain apresenta uma composição dramática contida e cerebral.
Dentro desses acertos criativos, “Violette” atinge um resultado positivo amplo:
desperta curiosidade e interesse em relação à sua biografada e também comove
pelo pungência do drama humano narrado.
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