A trama de “O quarto de Jack” (2015) se divide em dois
momentos bem distintos: na primeira parte do filme, a narrativa se concentra no
espaço reduzido do quarto de cativeiro onde a criança Jack (Jacob Tremblay)
nasceu e convive diariamente com a mãe Joy (Brie Larson); na segunda parte da
história, após a fuga do cativeiro, foca-se no complexo processo de adaptação
do garoto ao mundo exterior. O que o filme do diretor Lenny Abrahamson tem de
mais interessante é justamente quando se concentra na transição entre esses
dois universos diferentes, pois é quando a obra investe numa abordagem estética
que valoriza muito o sensorialismo, como se procurasse emular os sentimentos e
a percepção de Jack ao entrar em contato com uma gama de sensações e
experiências praticamente inéditas para ele. Essa ênfase em um estilo
sensorial, entretanto, acaba se revelando tímida, tendo em vista a preferência
de Abrahamson na maior parte do tempo em juntar clichês e trejeitos convencionais
de melodrama. A terrível trilha sonora, por exemplo, mata qualquer possiblidade
de sutileza É claro que boa parte da temática do roteiro, inclusive a questão da
garota que é sequestrada e abusada sexualmente durante vários anos por um desiquilibrado,
é interessante, mas o tratamento artístico oferecido por Abrahamson é tão banal
e superficial que tudo acaba ficando com cara daquelas opacas produções “baseadas
em fatos reais” que passam com frequência nos “supercines” da vida. Nem parece
que “O quarto de Jack” é um filme do mesmo cineasta que fez o esquisito e
sardônico “Frank” (2014).
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