sexta-feira, fevereiro 05, 2016

Sentimentos que curam, de Maya Forbes ***

Obras autobiográficas representam uma vertente dentro da história do cinema que já rendeu algumas produções antológicas, vide trabalhos memoráveis de Woody Allen (“A era do rádio”), Fellini (“Os boas vidas”, “Amarcord”) e John Boorman (“Esperança e glória”, “Rainha e país”). É claro que é difícil para uma diretora estreante atingir patamares de criatividade tão altos quanto as obras aludidas, mas ainda assim Maya Forbes consegue um feito notável em “Sentimentos que curam” (2014), filme cuja trama apresenta fatos marcantes de sua infância e adolescência. A cineasta se utiliza de uma estrutura narrativa típica de um melodrama convencional, fazendo com que sua obra se diferencie a partir de nuances relevantes. Para começar, sua abordagem formal é crua e vigorosa – direção de fotografia demonstra influências de cinema documental pelo tom esmaecido das imagens, evocando uma ambiência nostálgica típica de um enfoque memorialista. Além disso, a encenação tem uma dinâmica que varia com precisão entre o sentimental e o naturalismo, baseando-se fundamentalmente na interação das atuações espontâneas da dupla de meninas e na interpretação carismática e expansiva de Mark Ruffalo no papel de um esquizofrênico boa-praça (o ator tem uma manha especial para personagens desajustados). Outro aspecto positivo dentro da concepção artística de Forbes é o seu roteiro, que mesmo se desenvolvendo dentro de parâmetros narrativos habituais do melodrama consegue surpreender pela profundidade dramática e pelas resoluções de seus dilemas que fogem dos moralismos fáceis.

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