Talvez “Flandres” (2006) seja a obra do diretor francês
Bruno Dumont que mais se aproxima de uma narrativa convencional. Até o gênero
ao qual pertence, o drama de guerra, parece ser bem definido. Isso não quer
dizer, entretanto, que o seu habitual estilo autoral esteja descaracterizado.
Ainda que flerte com alguns clichês narrativos, Dumont cria um conto moral de
atmosfera e encenação desconcertantes. Num primeiro momento, a narrativa se
concentra num cenário campestre, em que o registro de tom seco de Dumont faz
evocar quase um universo paralelo devido ao comportamento nebuloso e beirando o
instintivo de seus personagens. Como em outros filmes de Dumont, o sexo, por
exemplo, é destituído de qualquer aspecto sentimental ou idealizado. Quando a
trama se volta para um cenário de guerra, provavelmente localizado em alguma
região asiática e muçulmana, o simbolismo do roteiro fica ainda mais difuso,
com o cineasta traçando um paralelo entre a brutalidade emocional intimista de
suas criaturas com a crítica visão política sobre a postura intervencionista do
mundo ocidental sobre os “selvagens” orientais. Esse questionamento sobre
civilização e barbárie foi depois melhor trabalhado em “O pequeno Quinquin”
(2014), mas mesmo assim em “Flandres” guarda uma forte carga inquietante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário