terça-feira, fevereiro 23, 2016

Flandres, de Bruno Dumont ***1/2

Talvez “Flandres” (2006) seja a obra do diretor francês Bruno Dumont que mais se aproxima de uma narrativa convencional. Até o gênero ao qual pertence, o drama de guerra, parece ser bem definido. Isso não quer dizer, entretanto, que o seu habitual estilo autoral esteja descaracterizado. Ainda que flerte com alguns clichês narrativos, Dumont cria um conto moral de atmosfera e encenação desconcertantes. Num primeiro momento, a narrativa se concentra num cenário campestre, em que o registro de tom seco de Dumont faz evocar quase um universo paralelo devido ao comportamento nebuloso e beirando o instintivo de seus personagens. Como em outros filmes de Dumont, o sexo, por exemplo, é destituído de qualquer aspecto sentimental ou idealizado. Quando a trama se volta para um cenário de guerra, provavelmente localizado em alguma região asiática e muçulmana, o simbolismo do roteiro fica ainda mais difuso, com o cineasta traçando um paralelo entre a brutalidade emocional intimista de suas criaturas com a crítica visão política sobre a postura intervencionista do mundo ocidental sobre os “selvagens” orientais. Esse questionamento sobre civilização e barbárie foi depois melhor trabalhado em “O pequeno Quinquin” (2014), mas mesmo assim em “Flandres” guarda uma forte carga inquietante.

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